24 agosto, 2013

Freaks, 1932 - Tod Browning.

Prepare seu café e venha comigo.


O filme começa com um apresentador de circo avisando ao público: "vocês verão monstros de verdade que vivem e respiram como gente...".

Cleópatra uma bela trapezista é amada pelo anão Hans. Ao saber da fortuna que Hans herdou, ela e o amante, Hércules, arquitetam um plano para se apossarem da herança.

Fingindo corresponder ao seu amor, casa-se com Hans e tenta envenena-lo. Mas, seu plano criminoso é descoberto pelos "monstros", cuja vingança será implacável.

Gênese do filme

Na sequência do sucesso de Frankenstein, de James Whale, produzido pela rival Universal, Irving Thalberg (o patrão da MGM Studios) terá pedido ao argumentista Willis Goldbeck "qualquer coisa ainda mais horrível que Frankenstein" e foi presenteado com o argumento de Freaks. Tod Browning foi o escolhido para dirigir o filme, pois um ano antes(1931) havia dirígio Drácula, com Béla Lugosi. Thalberg teve de lutar contra as objecções de Louis B. Mayer(criador do "sistema estrelar", um método usado para criar e promover estrelas do cinema clássico de Hollywood.) e do pessoal do estúdio, desagradado por ter de conviver com as criaturas disformes que interpretam o filme. O orçamento disponibilizado foi considerável, atendendo ao fato de se tratar de um filme que não tinha atores conhecidos no elenco.

Reações ao filme

"Todos os que consideram isto diversão mereciam ser enfiados no serviço de patologia de um qualquer hospital".

"Atroz e fascinante obra-prima, pela primeira vez no écran um realizador ousava dirigir nada menos que fenômenos de feira, em carne e osso: a mulher-aranha, o homem-tronco, as irmãs siamesas, anões e restante galeria de pequenos monstros. E, no entanto, nesse assombroso filme os monstros são outros... a bela Cleópatra e o atlético Hércules, imagens da força e da beleza, personagens "normais", mas de comportamento repugnante".

We accept you, one of us!

Apesar da mensagem introdutória expressa – a de que os indivíduos ali retratados são seres humanos, com sentimentos humanos, que sofreram ao longo do tempo não apenas pelas suas deformações naturais, mas também pelo injusto comportamento das pessoas normais – deixar claro quais são as intenções do filme, é possível questionar, no final das contas, se os produtores estavam fazendo o mesmo que faziam os proprietários de circos dos horrores, isto é, explorando aquelas pessoas como aberrações da natureza com fins lucrativos e ferindo, portanto, gravemente seus direitos humanos.

Quem tende a se aproximar dessa visão deve ter, com todo o respeito, interpretado mal o filme. Primeiro porque Freaks não é exatamente um filme de terror. E, se for, os verdadeiros vilões são dois personagens absolutamente normais, ou melhor, dois representantes da beleza admirada pela plateia (uma trapezista sedutora e um fisiculturista machão). Na verdade, a obra de Tod Browning é um manifesto contrário a pensamentos que assombrariam a humanidade ainda naquela década com o nazismo: Freaks é, nesse sentido, um filme anti-nazista.

Aqui, os heróis são anões, gêmeas xifópagas, um homem sem braços e pernas, uma mulher barbada, três microcéfalos, uma mulher sem braços… Quando os vilões atingem a honra de um deles violentamente acabam por quebrar o laço que os une como irmãos (one of us, one of us!) e por isso devem pagar. É basicamente um filme de vingança (mas não daqueles pesadões, pelo contrário, o humor aqui também está presente e faz parte do realismo anti-bom mocismo do material). E a vingança, como nós sabemos, é um daqueles sentimentos que fazem parte da natureza humana e que foi tantas vezes retratada no cinema.

As diferentes reações que Freaks pode causar no público mostra bem o seu poder atemporal. Repulsa, medo, comoção, desconcerto, reflexão… Para uns, trata-se de um filme horroroso em todos os sentidos. Para outros, trata-se de um filme de beleza única.

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